2008-06-17


Sou estas mãos que às palavras sombrias emprestam o gesto
a minha cabeça espasma-se saturada da obediência
e consulto as páginas amarelas do desespero
procurando outro corpo que me substitua.
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Esta noite outra noite vou pensando por mim mesmo num lugar fora do dicionário 
um lugar que tenha outro corpo neste corpo que não este. Um lugar onde a palavra me substitua sem me substituir e a palavra EU seja verdadeiramente minha só minha de mais ninguem. Sei que sou este corpo escravo das palavras.Um corpo obediente a si mesmo nesta circunstância saturada de ir obedecendo para não morrer eternamente.Esta noite outra noite alguma coisa haverá no fim do verso. E mesmo que haja outro servo que ocupe o lugar não poderá escrever com estas mãos o meu poema. Bem sei que não lhe pertenço como não pertenço às árvores apesar de descansar na sua sombra.
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Ficarei de mãos cruzadas a assistir.
De mãos cruzadas rarefeito e a sorrir.