2008-12-16

Poema do suicida que ficou surdo

Diz
Podes dizer.
Podes dizer outra vez morte.
Podes dizer cicuta que eu estou pronto para a beber. Tenho virtude.
Podes dizer que ainda tenho pulmão que aguente. Diz
Que tu eu somos uma mentira inventada
Que os meus dentes amarelecidos não provam mais o teu sabor
Que o pão na mesa está passado
Que o amor é só sombra do seu fruto.Diz
Faz-me crer
Faz-me crer noutro mundo para lá da aurora
Faz-me crer flor venenosa
Flor sangrenta com o meu sangue nas unhas.
Faz-me crer.
Diz DISPARA de uma vez por todas.
Projecta o projéctil que não estava no projecto.
DIS-PA-RA o disparate. DIZ.

(Já é altura de calar o eco que fazes na cabeça).