
A teoria da literatura serve para matar a poesia e a alma dos poetas sugando-lhes o sangue das metáforas, como de resto fazem às musas. Envenenam de enxofre o processo de génese do poema, abortam a criatividade à nascença.
as musas são flores da cabeça
extremamente belas na cabeça
extremamente belas na cabeça
e com odores difíceis e inacessíveis ao faro da crítica literária.
podia dizer-vos que Platão estava certo com a sua alegoria
e que todas as mulheres sensíveis não são mulheres de verdade.
podia dizer-vos que as musas não são mulheres nem ninfas
mas fantasias celestes de um reino inteligível.
podia dizer tudo isso como fazem os críticos literários para matar o poema.
podia dizer que os poetas são mais felizes
quando as suas mãos estão ocupadas nas coxas ou cabelos de mulheres sensíveis.
dizer a todos vós que apreciais jornais e revistas
a poesia morreu vítima de homicídio involuntário.
a poesia morreu vítima de homicídio involuntário.
foram os críticos que mataram o último verso
onde uma musa nascia do próprio poema.
Deixo-vos um verso só:
as musas são o sémen da cabeça.
(pedireis aos críticos literários que dissequem este último verso e o coloquem num tubo de ensaio para inseminar no futuro uma terra estéril onde a poesia não vive)