2024-08-30

S.O.S.

Olha nos meus olhos e diz que não me queres.

Direi que mentes porque o brilho dos teus olhos

ainda espelha a espuma das ondas

que se enrolam na areia da praia

onde plantamos o coração.

Olha nos meus olhos e diz que não me queres.

Direi que mentes porque o verde dos teus olhos são o mar

onde luzem os meus olhos da cor dos sargaços

que abrigam os polvos com os seus tentáculos.

E por isso não mintas ao dizer que não me queres.

Não mintas porque sabes que quando me encontraste

eu era um gato velho e vadio com menos que sete vidas

pronto a escalar o teu tronco para habitar dentro de ti.

Não me mintas porque sabes bem que és um aquário

onde mascarado de peixe gato eu quis mergulhar para sempre.

 

Olha nos meus olhos e diz que não me queres mais.

E se o disseres, como se fosse um pássaro eu levantarei voo

do ninho que teci no teu tronco para me fortalecer

ou como um polvo alimentado pelos crustáceos dos sargaços

do teu mar eu soltarei os meus tentáculos.

E como um albatroz planarei o oceano sem fim

até avistar o continente para pousar na areia da praia

e alongar as minhas asas enquanto assisto ao pôr do sol.

Depois escavarei com o bico a areia branca até encontrar o vidro

que se reflete nas tuas águas para desenterrar as raízes

deste poema onde sepultei o meu coração.

29/08/2024 


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