da verdade sabemos pouco
tanto como o relógio dos seus próprios ponteiros.
há um segundo atrás
dois segundos talvez para ser mais preciso
eu sabia a palavra exacta
era cão
pelo eco que faz na cabeça
cccaaaaaaaaãoãoãoãoãoãoãouuuuummmmm.
e o cão mordeu a morte sem darmos por isso
contabilizei exactamente quatro minutos e trinta e três segundos
nenhuma verdade.
o cão vadio de uma arma Vitor Charrasqueta de 1960
cartão, chumbo, feltro, copela, pólvora e fulminante deixado num dos canos
a mão esquerda no fuste
a face apoiada na coronha de madeira
o guarda-mato com gravura de flores e
o gatilho no indicador da mão direita.
dois meninos a brincar- um tiro certeiro só.
nenhuma verdade
em quatro minutos e trinta e três segundos
a espingarda disparou.
pppouuuuuummmmmmmmm.
tic,tac, tic, tac, tic, tac, tic, tac,
tic, tac, tic, tac,
tic,tac, tic,
tac,
tic
tac
(e o coração parou)
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