2006-02-22
ainda preservo intacta
a flor do teu sorriso.
se soubesses quanto estou contente
de a preservar,
talvez devolvesses ao mar os pesadelos
e guardasses aquele brilho
que um dia colheste nos meus olhos.
de ódio e de morte não se faz a arte
e por isso a luz
que se apagou no nosso quarto
estará acesa noutro quarto.
se soubesses como te guardo
como colho maravilhado noutros olhos
os teus olhos,
noutros lábios, os teus.
poderás ter desaparecido do horizonte
mas eu não terei morrido entretanto
e por isso
neste quarto ou noutro quarto,
nesta casa ou noutra casa,
haverá sempre um sorriso à porta de entrada.
o jardim da tua boca
a flor da amendoeira dos teus olhos
nos meus.
J.M. Oliveira 22-02-2006
2006-02-08
Adeus dos outros
senta-te no meu regaço, abre um livro.
porque és mulher, pronta e madura
vem comigo adormecer a melancolia
das horas que se demoram
das noites e dos dias,
das noites e dos dias, dias e dias
em que me canso de dormir só.
senta-te no meu regaço e diz
“já gastámos as palavras pela rua meu amor”
“gastámos tudo menos os segredos”
e eu confessarei os segredos
“porque confesso que vivi”
vivi
“por não poder adiar o amor para outro século”
“por não poder adiar o coração”
“nem o meu grito”,
“nem a minha vida”.
lê comigo estes versos na areia deserta de uma praia qualquer
e repara
“ninguém como nós, meu amor, conhece o sol”.
ninguém como nós conhece
o sol ou o crepúsculo que ficará depois da poesia.
depois de nós, não restará um só meridiano da minha longitude
e o meu hálito a amoras silvestres colhidas em Maio
voltará a ser o hálito do tabaco frenético e de azeitonas.
“Porque não posso adiar este abraço que é uma arma de dois gumes”
porque não posso deixar para outra vida o meu desejo
nem a vontade.
quero fazer-te mulher, amante, amiga
porque não posso dispensar este sol, nem este oxigénio
nem as borboletas que salpicam de pólen a barriga
e me remoem os sentidos na febre de sentir
o indício do teu beijo, o verso do poema final.
J.M.Oliveira - Janeiro 2006
senta-te no meu regaço, abre um livro.
porque és mulher, pronta e madura
vem comigo adormecer a melancolia
das horas que se demoram
das noites e dos dias,
das noites e dos dias, dias e dias
em que me canso de dormir só.
senta-te no meu regaço e diz
“já gastámos as palavras pela rua meu amor”
“gastámos tudo menos os segredos”
e eu confessarei os segredos
“porque confesso que vivi”
vivi
“por não poder adiar o amor para outro século”
“por não poder adiar o coração”
“nem o meu grito”,
“nem a minha vida”.
lê comigo estes versos na areia deserta de uma praia qualquer
e repara
“ninguém como nós, meu amor, conhece o sol”.
ninguém como nós conhece
o sol ou o crepúsculo que ficará depois da poesia.
depois de nós, não restará um só meridiano da minha longitude
e o meu hálito a amoras silvestres colhidas em Maio
voltará a ser o hálito do tabaco frenético e de azeitonas.
“Porque não posso adiar este abraço que é uma arma de dois gumes”
porque não posso deixar para outra vida o meu desejo
nem a vontade.
quero fazer-te mulher, amante, amiga
porque não posso dispensar este sol, nem este oxigénio
nem as borboletas que salpicam de pólen a barriga
e me remoem os sentidos na febre de sentir
o indício do teu beijo, o verso do poema final.
J.M.Oliveira - Janeiro 2006
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