Olha nos meus olhos e diz que não me queres.
Direi que mentes porque o brilho dos teus olhos
ainda espelha a espuma das ondas
que se enrolam na areia da praia
onde plantamos o coração.
Olha nos meus olhos e diz que não me queres.
Direi que mentes porque o verde dos teus olhos são o mar
onde luzem os meus olhos da cor dos sargaços
que abrigam os polvos com os seus tentáculos.
E por isso não mintas ao dizer que não me queres.
Não mintas porque sabes que quando me encontraste
eu era um gato velho e vadio com menos que sete vidas
pronto a escalar o teu tronco para habitar dentro de ti.
Não me mintas porque sabes bem que és um aquário
onde mascarado de peixe gato eu quis mergulhar para sempre.
Olha nos meus olhos e diz que não me queres mais.
E se o disseres, como se fosse um pássaro eu levantarei voo
do ninho que teci no teu tronco para me fortalecer
ou como um polvo alimentado pelos crustáceos dos sargaços
do teu mar eu soltarei os meus tentáculos.
E como um albatroz planarei o oceano sem fim
até avistar o continente para pousar na areia da praia
e alongar as minhas asas enquanto assisto ao pôr do sol.
Depois escavarei com o bico a areia branca até encontrar o vidro
que se reflete nas tuas águas para desenterrar as raízes
deste poema onde sepultei o meu coração.
29/08/2024