2013-05-08

Quando me sentir estar morto decidirei talvez procurar uma lente para minuciar aquilo que perdi por obnubilação das vistas.
(Não dos olhos, que esses míopes, nem um palmo conseguem ver à sua frente, devido à condição sociopolítica de um meio ambiente de esquizofrenia paranoide com alucinações e delírios que subjugam o direito inalienável à manutenção do corpo e da vida condigna).
Vistas inquietas que me fogem para lá da fronteira destas quatro paredes porque a sua condição é unicamente a política externa da alucinação guliveriana das mamas da vizinha.
Horizonte é delírio bastante  para zarpar pela janela e ir direto ao assunto ou não fosse a minha condição geoestratégica impossibilitante devido ao formigueiro liliputiano de um viriato aquartelado em quatro paredes.
Estou a imaginá-la, por magia, nua, em frente ao espelho com os seios apontados como faróis à mesa das negociações, sem a consciência dos olhos vir ao de cima,  ao mesmo tempo que as vistas deambulam num solilóquio interior com sintomas de apoplexia provocada pela casa da vizinha pregada ao televisor.
Apoplexia provocada pelo derrame quimérico de que cada um de nós pode viver uma vida inteira sem rugas, nem patas de galinha a comerem-nos os olhos.
Nenhum espelho capaz de nos devolver a singular e universal condição humana crescente e senescente que nos faça aproximar da origem...

E por isso, quando sentir que estiver morto, o melhor é permanecer de olhos fechados e com a cara tapada
e guardar o último e fugaz sorriso sem desvios oftalmológicos
nas nuvens de amor e de tabaco -
em ambos casos produzidas pela combustão das bocas...
em ambos os casos um vício
ou um precipício do espelho do que somos...