2010-02-23

Era uma vez uma borboleta pura
cuja essência
era a ideia do seu ser
dentro de um casulo
a saber - uma lagarta.
Era por isso uma triste
e contemplativa borboleta
como um poema ferido na sua condição
concebido por um filósofo
idealista na construção
dialéctica de um sistema
onde a antítese
da borboleta
era o ser de um insecto
nocturno - uma traça.
Dois pares de asas membranosas
cobertas de escamas
e peças buçais adaptadas
à sucção das páginas
de todos os nomes do dicionário
com uma apurada capacidade
de mastigação do papel
definiam a natureza voraz da lagarta.
Uma assassina larvar inteligível
transformada pelo impulso
sensível do poeta
em mariposa.

3 comentários:

Ana Cristina Quevedo disse...

Acho que todos temos nossa fase lagarta...
Mas o que importa é a transformação, a mudança, o poder se desvincular do passado e antever o futuro .

Um quase poema? Não. Um belo, lindo poema.

Graça Pires disse...

A poesia é metamorfose, ny transfiguração...
Um abraço.

MeuSom disse...

... e eu gosto de como lhes pegas pela mão (aos poemas) e os conduzes... e corriges... como que ensina uma criança a crescer!
Beijo!