2010-01-13

Psicanálise

E se algum dia um psicanalista
me acusar de egocentrismo
e disser que finjo ser poeta
para fugir à realidade
e que cada verso
é uma tentativa absurda
de superar um desejo recalcado
direi que sim!

Direi que sim
porque quis escrever estes versos
enquanto não fazia outras coisas.

Depois desenharei ao psicanalista, uma mulher
redonda, uma mulher prenhe e redonda
tão redonda como a terra
mas talvez menos achatada no pólo sul
e com um fosso Índico onde nadam os peixes
dentro da vagina para rebentarem cabeças de alfinete
ou girinos à espreita de uma oportunidade
cirúrgica para dilacerar a sua fonte.

Desenharei sim!
Uma mulher prenhe e redonda
com dois relevos a norte donde nascem
rios de leite para matar a minha sede.

Desenharei sim!
E concluirei que não sou egocêntrico
mas um geocêntrico disfarçado de charuto
sentado à secretária de um consultório de psicanálise.
(história do último desejo do homem que queria ser poeta)

3 comentários:

mb disse...

Olá José Miguel!
Muito louco o teu poema!
Muito visual e erótico.
Espero que o homem que queria ser poeta possa realizar os seus últimos desejos
Beijinhos :)

Graça Pires disse...

O poeta é mesmo um fingidor... Para quê o psicanalista?
Beijos.

Ana Cristina Quevedo disse...

Poetas, loucos, insanos, fingidores, criativos e acima de tudo, gente que ama o que faz: escrever por prazer.

Beijo!