2007-02-14














Não se podem desenterrar os mortos

podemos quando muito oferecer-lhes flores


flores cortadas a um jardim

flores mortas que se deitam ao chão em que repousam os mortos.




Se um dia eu morrer não quero que seja assim.

Plantem de mim o que resta debaixo do pinheiro manso da minha casa


do mais alto onde algumas pinhas se atiram maduras ao chão


e que os pinhões se semeiem nos meus ossos, no fémur, nas tíbias, no crânio, nos cabelos...

que os pinhões aproveitem toda a biodiversidade metafísica deste húmus
e um novo pinheiro manso se levante,

Um pinheiro ou uma roseira brava como a que existe ali mesmo ao lado.

Que nela pousem muitas abelhas e transportem para qualquer parte a minha flor

ou então que sejam as rolas, as rolas turcas que ali fazem ninho

que sejam elas a levar no papo o pinhão que resta de mim.

e a inteira biodiversidade metafísica do meu coração.

1 comentário:

Blog da fera disse...

Só agora tive acesso aos teus blogs. Aparece mais vezes, os amigos não se esquecem. Um beijo Ana, Chaves